Novas tecnologias, disrupção e cultura de inovação: esses são alguns temas que, há algum tempo, se tornaram recorrentes em debates por todo o mundo dos negócios. Porém, algumas empresas ainda não se deram conta do quanto é necessário não apenas entender o que é a transformação digital, mas também descobrir formas de aplicá-la no dia a dia.
Um recente levantamento da CI&T, de abril de 2019, aponta que 8 em cada 10 C-Levels de empresas brasileiras já perceberam o impacto de tantas mudanças em seus mercados de atuação. Entretanto, muitos deles ainda veem a sustentabilidade e a efetividade como um grande desafio da era 4.0 nos negócios — e nem todos se consideram preparados para apoiar as suas equipes.
Para ajudá-lo nesse processo de repensar os seus processos para que a sua organização consiga extrair tudo o que a jornada digital tem a oferecer de melhor, elaboramos este artigo completo. Você entenderá um pouco mais sobre quais são os reais impactos das tecnologias nas empresas e os pilares que devem ser considerados para alavancar o seu negócio de forma mais estratégica.
Os 5 domínios da transformação digital
No livro “Transformação Digital — repensando o seu negócio para a era digital”, o professor e consultor David L. Rogers destaca que, com as mudanças provocadas pelas novas tecnologias, existem cinco tópicos que se tornaram pontos de atenção ainda mais relevantes para as empresas: os clientes, a competição, os dados, a inovação e o valor.
Esses domínios, como são chamados por Rogers, quando levados em consideração e tratados com o devido cuidado, se tornam importantes ativos estratégicos. Em longo prazo, isso significa ter uma melhor saúde financeira e o ganho de diferenciais competitivos para manter a sua organização em destaque no mercado.
1. Clientes
É notória a mudança no comportamento dos consumidores, principalmente na última década. Gastar menos tempo em suas compras, obter os melhores produtos e viver experiências diferenciadas e positivas são apenas algumas das exigências que se tornaram mais fortes. Estamos na era do compartilhamento: quanto mais personalizado o atendimento, mais você encanta o seu cliente e maiores se tornam as chances de a sua marca ganhar uma boa reputação.
David Rogers explica que é preciso que os negócios, à medida que se tornam digitais, passem a encarar os seus clientes como parceiros, não como um grupo de pessoas ou empresas para quem precisam vender. É importante pensar em estratégias de fidelização, pois, com a Internet, ficou cada vez mais fácil buscar por outros produtos, preços e melhores condições de compra.
Além disso, as empresas que estão adotando uma cultura de customer centricity tem conquistado, aos poucos, a preferência dos consumidores. Isso porque todo o movimento interno da organização funciona em prol de trazer o que for melhor para os seus clientes, ouvindo mais o que eles têm a dizer e quais são as suas necessidades reais antes de tomar qualquer iniciativa.
2. Competição
Até pouco tempo, empresas concorriam diretamente com outros fornecedores de produtos semelhantes. Porém, com a transformação digital e o surgimento de negócios extremamente disruptivos, a situação mudou: o Airbnb não veio simplesmente para competir com os hotéis e oferecer acomodações tão superiores quanto as de um Hilton, mas para proporcionar novas experiências de viagens.
Atualmente, o negócio do Airbnb cresceu tanto, que conta não apenas com acomodações para todos os bolsos e gostos, como também permite que anfitriões organizem passeios, momentos de diversão e aventuras únicas em suas cidades. Assim também ocorre com muitos outros negócios que disponibilizam as suas plataformas para facilitar a vida do usuário — e é preciso ficar atento a eles.
3. Dados
Os dados estão sendo considerados como algo tão importante para o futuro de qualquer organização, que muito se falava que esse ativo seria o novo petróleo do mundo. Apesar de essa analogia ter começado a ser refutada, não há como negar que a produção, o gerenciamento e a transformação de dados em informações valiosas têm contribuído significativamente para os processos de tomada de decisão.
Não apenas os dados de mercado e clientes são coletados pelas empresas: graças às novas tecnologias, grande parte das ações realizadas pelos colaboradores e os resultados desses movimentos se transformam em números e referências. A análise combinada desses vários tipos de dados, que também pode ser feita pelas tecnologias, fornece insights poderosos para gestores.
4. Inovação
Em seu livro, Rogers destaca o quanto o modelo de testes das startups tem sido bem-sucedido. É que, antes mesmo de lançarem os seus produtos finais, esses negócios têm prototipado e experimentado novas soluções com os seus clientes antes de lançar a versão final. Em todo esse processo, tecnologias estão sendo utilizadas como facilitadoras.
Investir em inovação e não ter medo de errar é algo que ainda custa muito caro para grandes organizações, que costumam estar presas em emaranhados de processos e orçamentos que não permitem abrir tanto espaço para novos movimentos. São obstáculos que elas terão que enfrentar caso desejem continuar no mercado.
5. Valor
Nesse domínio, Rogers não fala sobre o preço, mas sim, da proposta de valor que uma empresa pode entregar para o público, desde potenciais clientes até aqueles que já efetivaram algum negócio com a sua organização. A necessidade dos consumidores tem mudado de forma muito rápida. É preciso que as companhias estejam não apenas dispostas a seguir esse movimento, como também a ousar para antecipar tendências e surpreender o mercado.
Para gerar propostas de valor, o professor sugere que as empresas, independentemente do setor, tornem comuns as práticas de:
- gerar insights, para tomar novas ações;
- pensar em segmentação, para conseguir atender a nichos e conhecer mais a fundo sobre esses pequenos grupos de clientes;
- personalização, atendendo às especificidades e tratando cada consumidor como único;
- análise de contexto, para se comparar com o status de outros players de mercado.
Cenário da transformação digital no mundo e no Brasil
Quando observamos os números relacionados à transformação digital e inovação ao redor do mundo, vemos que o Brasil ainda tem muitas oportunidades para avançar, seja implementando novas tecnologias, seja com a mudança de mindset de lideranças em setores públicos e privados.
No Ranking de Competitividade Digital do IMD, que avalia 63 países, o Brasil ocupa apenas a 57ª posição e sequer está à frente dentre os países latino-americanos. Segundo a publicação, o gerenciamento de cidades, as habilidades tecnológicas e digitais, a tecnologia da comunicação e a burocracia para a abertura e gestão de novos negócios são os principais pontos que precisam de mais atenção dos brasileiros.
Em um estudo elaborado em parceria com o Governo do Brasil e importantes instituições do país, a Deloitte também reforça a necessidade de um mais investimento em áreas relacionadas à Tecnologia da Informação e Comunicação. Outras regiões do mundo que estão seguindo por esse caminho, como Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido e Alemanha, estão apresentando excelentes níveis de crescimento econômico — o que é algo necessário para o atual contexto brasileiro.
Até 2025, caso a economia digital global cresça cerca de 2,5 mais rapidamente que a economia mundial em geral, conforme preveem os levantamentos da Accenture, é melhor que as empresas e os gestores brasileiros estejam preparados. Afinal, esse boom é um sinal de que outros negócios e países ao redor do mundo também farão grandes investimentos e, muitos deles, já estão muito à frente — o que os torna concorrentes de mercado mais fortes.
Efeitos de rede e multiplataformas
O funil de vendas, em que atrair, converter, relacionar e vender eram as grandes prioridades das empresas, está aos poucos se desfazendo. Para os clientes, a comunicação de mão única, na qual só as organizações é quem falavam sobre si e seus produtos, já não é mais atrativa: o que vale, cada vez mais, é a opinião de seus pares, ou seja, de outros clientes.
Colaboração, engajamento e interação fazem cada vez mais sentido, e essas são algumas das palavras que definem os efeitos de rede. Utilizando a Internet, os clientes compõem uma grande teia de informações e trocas, em que os negócios continuam como protagonistas, mas que precisam saber ouvir mais e inovar para atender a essa rede de clientes.
Os negócios que utilizam plataformas como o seu principal ativo são os que mais têm se destacado nesse ponto. Voltamos então ao exemplo do Airbnb: a empresa permite que os usuários façam toda a comunicação e a troca dentro do site ou aplicativo, facilitando a vida de quem tem um espaço para locar e de quem deseja viver uma experiência diferente de hospedagem.
A preocupação do Airbnb é diferente dos hotéis. Enquanto estes precisam se preocupar em vender a sua imagem para atrair novos clientes, a plataforma digital precisa apenas proporcionar um espaço seguro, amigável e simplificado, que dê a liberdade para que as pessoas façam as suas interações e sintam-se satisfeitas.
Quanto mais clientes estão interagindo nessas plataformas, maiores são os efeitos de rede e, consequentemente, os lucros das empresas que as disponibilizam. A tecnologia ainda contribui para tornar esse negócio extremamente acessível a um grande número de pessoas, já que tudo é feito pela Internet, e permite que ele seja escalável por meio da computação em nuvem.
Por isso, é tão comum vermos que não apenas o Airbnb, mas também o Spotify, serviço de streaming de música, a Netflix, de filmes e séries, e as fintechs, como o Nubank, têm conquistado tantos novos clientes e atingido números surpreendentes de crescimento e faturamento. Eles estão onde, quando e do jeito que o consumidor mais precisa.
Mercado e cultura de inovação
Tão importante quanto a adoção de novas tecnologias é fazer com que toda a organização esteja preparada para ser inovadora. Ter os melhores recursos disponíveis no mercado faz ainda mais a diferença quando os colaboradores são capacitados e incentivados a utilizá-los de forma a otimizar o produto e serviço final, bem como para gerar insights valiosos de como melhorar a realidade ou criar possibilidades.
Para construir uma cultura de inovação na sua empresa e ganhar destaque dentre os seus concorrentes diretos e indiretos, é preciso refletir sobre alguns detalhes e implementá-los — e é sobre isso que trataremos a seguir.
Liderança pelo exemplo
Antes de tudo, as primeiras iniciativas inovadoras e o incentivo para que elas apareçam em toda a empresa devem partir dos líderes. É que a liderança pelo exemplo ainda é muito valorizada e sempre é tema de destaque quando o assunto é relações de trabalho positivas entre diferentes hierarquias.
Equipes mais diversas
A diversidade tem sido um assunto frequente não apenas pelo lado humanizado de incluir minorias no mundo dos negócios. É que estudos como o da consultoria McKinsey revelam que contar com uma multiplicidade de pensamentos e backgrounds contribui para um retorno financeiro 35% maior. Quanto mais pessoas diferentes na sua equipe, maiores são as chances de obter ideias inovadoras e gerar crescimento.
Capacidades humanas
Habilidades técnicas são importantes para um colaborador, mas à medida que robôs, inteligências artificiais e outras tecnologias vão evoluindo, mais elas aprendem a executar os trabalhos que necessitem desse know-how. Porém, elas ainda não conseguem substituir muitas das capacidades humanas que são consideradas como soft skills.
Em uma pesquisa com líderes globais, o LinkedIn identificou que 57% deles já perceberam a importância de habilidades como a liderança, a comunicação, a colaboração e a gestão de tempo e passaram a considerá-las mais relevantes que as hard skills. Além dessas, também é possível destacar:
- a criatividade;
- o pensamento crítico;
- a flexibilidade e a disposição para mudanças;
- a responsabilidade.
Espaços para experimentação
Construir uma cultura também é dar espaço para que as ideias ganhem forma e sejam colocadas em prática. Realizar treinamentos, fazer benchmarkings e criar momentos específicos para brainstorming são muito ricos para despertar nos colaboradores o senso de urgência. Dar a oportunidade para que falem, executem, errem e tenham aprendizados com esse processo também é valioso para que eles se sintam valorizados e incentivados a tentar.
Transformação digital e a ciência de dados
Uma simples busca em publicações relevantes sobre o universo dos negócios, como a Forbes, ou em pesquisas de grandes consultorias, como a Gartner, darão a mesma resposta: os dados são uma das partes mais relevantes no processo de transformação digital. Antes utilizados muito mais por partes específicas das empresas, como em vendas, hoje eles podem e devem ser explorados por toda a organização, independentemente do setor.
A sua empresa sempre gerou milhares de dados, a todo o tempo. Atualmente, com as tecnologias, ainda mais números são coletados e agora são um grande ativo intangível para os negócios. “Em vez de se confinarem no âmbito de unidades de inteligência de negócios, os dados estão se transformando em força vital de todas as unidades organizacionais e em ativos estratégicos a serem desenvolvidos e explorados ao longo do tempo”, cita o professor em seu livro “Transformação Digital — Repensando o seu negócio para a era digital”.
A grande preocupação que deve fazer parte da sua rotina é como transformar esses dados brutos e não estruturados, que estarão dentro de um Big Data, em uma informação realmente valiosa para o dia a dia da empresa. É nesse momento que entram, de forma aliada, dois pontos que já tratamos neste artigo: tecnologias como a Inteligência Artificial, o Business Analytics e as capacidades humanas.
A consultoria IDC Brasil estima que as empresas brasileiras, apenas em 2019, farão investimentos em Tecnologia da Informação que chegarão próximos aos 4,2 bilhões de dólares. Porém, tão importante quanto fazer essas aquisições é, posteriormente, realmente utilizar os dados de forma estratégica para conduzir a tomada de decisão, pois isso ainda não é feito por muitos líderes.
A disruptividade e a escalabilidade
As palavras que compõem o título desse tópico certamente já foram ouvidas quando se trata de jornada digital — e, até mesmo, já foram citadas neste artigo. Mas ser disruptivo e escalável não é uma tarefa fácil e exige que você e a sua empresa estejam dispostos a passar por grandes mudanças.
É preciso levar em consideração que, para ter essas duas características, é necessário que o seu negócio repense tanto a proposta de valor, que engloba os preços e formas de acesso ao seu produto ou serviço, por exemplo, quanto a rede de valor, composta pelos seus clientes, parceiros e, até mesmo, a sua marca.
Antes de escalar as suas experiências digitais ou reinventar a sua empresa por inteiro para ser diferente, faça uma análise de cenários. David Rogers destaca que há alternativas para se tornar um disruptor:
- adquirindo aquela nova empresa que surgiu, como o Facebook fez com o Whatsapp;
- lançando um novo negócio, como a Saint-Gobain fez ao lançar a Outiz;
- ou dividir o modelo de negócios, como a Google fez ao lançar a plataforma Android e liberá-la para várias empresas de hardware em busca de competição com a Apple.
O consultor também dá dicas para minimizar os problemas que um concorrente disruptor pode causar na sua organização, dentre elas:
- adotar estratégias para atender ao nicho que, de nenhuma forma, abandonaria o seu negócio por outra opção;
- diversificar o seu portfólio, oferecendo novos produtos e serviços que possam cumprir importantes papéis na vida do seu cliente;
- uma saída rápida de mercado, que é a alternativa menos desejada, mas que pode ser considerada em situações extremamente críticas, pois minimiza um pouco dos impactos financeiros.
Os principais desafios para as empresas
Passar pela transformação digital já não é mais uma opção. Aos poucos, essa se tornou uma necessidade para continuar sobrevivendo em um mercado tão competitivo. Encurralados pela pressão de serem inovadores e digitais, os gestores encaram ainda muitos obstáculos para conseguirem fazer as empresas atingirem um novo patamar na era do 4.0. Veja alguns deles!
Organizar o orçamento
Quando se fala em adoção de novas tecnologias e inovação, uma das primeiras barreiras colocadas é referente ao orçamento. Muitas empresas ainda não entendem que a transformação digital é um investimento para o futuro, que alguns resultados poderão vir apenas a longo prazo e que é preciso desprender, continuamente, uma parte das finanças para continuar a fomentar esse movimento na organização.
Investir em pessoas
Um problema recorrente no Brasil tem sido a falta de mão de obra qualificada, em especial na área de Tecnologia da Informação, que é uma das grandes aliadas para a transformação digital acontecer dentro de uma empresa. Encontrar as pessoas certas ou capacitar os seus funcionários exige que você esteja preparado financeiramente.
Escolher os melhores parceiros
Contar com fornecedores que, de fato, conheçam o seu segmento, entendam as suas dores e estejam dispostos a ajudá-lo a seguir pela jornada digital é um passo extremamente importante. Na era 4.0, o que você precisa é de parceiros estratégicos, não de simples relações comerciais.
Convencer os mais tradicionais de que é seguro
A possibilidade de ter vazamentos de dados estratégicos de um negócio é uma preocupação frequente de gestores mais conservadores e costuma ser um dos argumentos utilizados para não fazer a transição para o digital. É preciso mostrá-los que não há mais desculpas: em cibersegurança, por exemplo, já existem milhares de bons recursos e outras empresas já estão fazendo grandes investimentos nisso para garantirem os seus espaços no mercado.
Perder o medo de errar
Cometer um erro pode trazer alguns prejuízos, mas também ricos aprendizados. O Google é um grande exemplo disso: ao longo dos seus anos de existência, milhares de produtos foram lançados e tirados do ar, como a rede social Google+. A grande questão é que, de cada falha, eles tiram preciosos aprendizados para seguirem em frente e continuam sendo uma das maiores empresas do mundo. Inclusive, aprender com as falhas faz parte dos pilares de inovação da companhia.
Com planejamento e foco nos domínios da transformação digital, a sua empresa tem grandes chances de obter excelentes resultados. Dar os primeiros passos pode ser desafiador, mas conte com os seus colaboradores e com as novas tecnologias para impulsionar o crescimento, manter a perenidade dos negócios e garantir uma life long connection com os seus clientes.
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