Disrupção é mais um dos termos da moda no mundo dos negócios. Mas isso não é à toa, uma vez que inovação é um dos pilares da era digital que vivemos hoje. Atualmente, empreender pode ser relacionado quase que exclusivamente à criação de modelos de negócios inéditos. Inovar e ser disruptivo são vistos como as únicas formas de garantir a sobrevivência da empresa crescendo e sendo competitiva no mercado atual.
De acordo com o dicionário Michaelis, disruptivo é algo relacionado ao ato de romper e quebrar o curso normal de um processo. Aplicando o conceito ao universo empresarial, ser disruptivo significa criar novos mercados, novos valores que podem, muitas vezes, acabar com ideias e negócios que eram consolidados até então.
Nesse sentido, Clayton Christensen, autor do livro The Innovator’s Dilemma, afirma que “inovações disruptivas não são avanços de tecnologias que fazem bons produtos melhores; ao contrário, são inovações que tornam os produtos e serviços mais acessíveis e baratos, tornando-os disponíveis a uma população muito maior. É importante lembrar que a ruptura é uma força positiva”.
Antes de entendermos de forma prática o que são considerados modelos de negócios disruptivos, é importante ressaltarmos que esse não é um conceito que surgiu com a transformação digital. Um exemplo de disrupção é a criação da máquina a vapor por James Watt e que acabou transformando os processos produtivos e, consequentemente, a sociedade na década de 1970.
Para compreender mais sobre modelos de negócios disruptivos, continue a leitura deste artigo.
3 exemplos de modelos de negócios disruptivos
Os exemplos a seguir são de empresas de segmentos diferentes e que funcionam de formas distintas. Todos eles se tornaram cases de sucesso pois criaram negócios que até então não existiam. Por esse motivo, não tinham público e tiveram que, além de conquistá-lo, ensinar às pessoas como usar seu serviço e produto. Essas características em comum são consideradas essenciais na criação de um modelo de negócio disruptivo.
Uber
A Uber é o principal exemplo de modelo de negócio disruptivo, visto que até virou um verbo: uberizar, que quer dizer fazer algo que nunca foi feito antes. Entre os diversos tipos de negócios disruptivos, ele é caracterizado como on-demand — quando o usuário paga por cada utilização do serviço ou produto.
A empresa pode ser definida como a criadora de um aplicativo de transporte alternativo fundada em 2010 nos Estados Unidos e que mudou a maneira como as pessoas se locomovem em 60 países ao redor do mundo.
O sucesso da Uber e de seu modelo de negócio pode ser explicado quando olhamos para números como:
- 3 milhões de motoristas cadastrados em todo o mundo;
- 75 milhões de usuários;
- mais de 15 milhões de viagens diárias;
- emprega mais de 22 mil pessoas mundialmente.
Usuários e fundadores da Uber acreditam que seu sucesso e crescimento exponencial em um curto período de tempo se deve à praticidade que o aplicativo oferece para que os usuários se locomovam pela cidade. Hoje, a Uber é considerada a maior empresa de táxis do mundo sem ser proprietária de nenhum veículo.
Coursera
A Coursera é uma empresa norte-americana focada em educação online. Fundada em 2012, hoje tem atuação em 19 países com cursos de diferentes áreas. É considerada um negócio freemium. O que a caracteriza como um modelo de negócio disruptivo é:
- a parceria com mais de 190 universidades e empresas reconhecidas internacionalmente;
- a inscrição gratuita em diversos cursos, precisando pagar apenas para ter um certificado oficial;
- a existência de uma rede de voluntários que traduz os cursos para os mais diversos idiomas;
- a plataforma disponibiliza uma opção de auxílio financeiro, em que é possível fazer doações para que pessoas que não têm condições de pagar pelo certificado possam obtê-lo;
- os vídeos podem ser assistidos em smartphones iOS ou Android sem ter conexão à internet, pois o aplicativo Coursera permite fazer o download de vídeos para serem assistidos offline.
Netflix
A Netflix também é um excelente exemplo de negócio disruptivo de modelo de assinatura. Quando olhamos a sua história, temos a prova de que nem sempre o modelo de negócio que a levou ao sucesso foi como a empresa começou. Pode não ser de seu conhecimento, mas a Netflix foi fundada em 1997 com o serviço de entregas de DVDs pelo correio de acordo com as escolhas feitas pelo site da multinacional.
Apenas após dois anos da sua criação, a empresa lançou o sistema de assinatura, que funcionava semelhante ao serviço atual. Porém, o usuário recebia os DVDs em casa pelo correio e não precisava se preocupar com multas de atraso de devolução.
Esse foi o sistema que fez com que a Netflix se tornasse famosa, embora o streaming só tenha começado a ser transmitido nos Estados Unidos em 2007. As recomendações eram feitas ao usuário a partir das avaliações feitas por outros assinantes.
O seu crescimento exponencial só começou mesmo em 2010, com o início da sua atuação internacional, mais especificamente no Canadá. Hoje a empresa atua em todas as partes do mundo, com exceção de quatro países: China, Coreia do Norte, Crimeia e Síria.
Além dos seus 5400 funcionários, o sucesso da Netflix é reconhecido por ser a empresa de entretenimento de maior valor de mercado do mundo, ultrapassando a Disney em 2018.
A criação de modelos de negócios disruptivos
Clayton Christensen, Mark W. Johnson e Darrell K. Rigby afirmaram, em artigo na MITSloan Management Review, que muitas das empresas que se consideram inovadoras não são disruptivas. A justificativa dos autores é que esse grande grupo é capaz apenas de criar inovações que atendem às necessidades já existentes. Na verdade, criar modelos de negócios disruptivos significa criar algo completamente novo.
O processo de disrupção é algo complexo e desafiador, uma vez que os riscos são muitos e o sucesso do negócio pode demorar a vir. Empreendedores e investidores nem sempre conseguem entender isso ou têm tempo para esperar tal momento.
Ainda segundo o artigo da Sloan Review, o sucesso de uma estratégia de criação de negócios disruptivos têm como base a capacidade dos gerentes em moldar as ideias, de forma a adaptá-las a uma série de fatores da empresa.
Visto que cada negócio e segmento de mercado tem suas especificidades, acreditamos que não há um passo a passo que garanta o sucesso e que a iniciativa será disruptiva. Por isso, usaremos a abordagem apresentada por esses três estudiosos no assunto. Eles propõem duas estratégias abrangentes para a transformação de planos de negócios em algo disruptivo.
Criando um novo mercado como base de um modelo de negócio disruptivo
Todo segmento de mercado tem alguma demanda reprimida pela incapacidade das pessoas de entender e aproveitar os benefícios dos produtos até então disponibilizados. Os autores colocam isso como a busca por formas de competir contra o não consumo. Ademais, é mais simples atrair esse público do que conquistar a clientela do concorrente.
Se você escolher esse caminho para criar um negócio disruptivo, o artigo coloca como fundamental três questionamentos antes de investir tempo e dinheiro na ideia. Abordaremos de forma aprofundada cada uma dessas perguntas a seguir.
#1 A inovação tem como objetivo atrair clientes que não usam o produto existente porque é caro ou eles não sabem usá-lo?
Ao analisar as empresas que são ou foram consideradas disruptivas, percebemos que há algo em comum: elas ofereceram às pessoas um produto ou serviço que era caro e complexo para a maioria da audiência.
Um exemplo que ilustra essa situação é o uso de PCs. Até 1970, somente grandes empresas tinham dinheiro para adquirir um computador. Além do alto valor, era preciso ter profissionais com conhecimento técnico para lidar com essas máquinas.
Hoje, milhares de pessoas em diferentes países têm um PC em casa, permitindo a resolução de problemas muito mais complexos do que os de 40 anos atrás. No entanto, isso aconteceu apenas pela drástica redução do preço e pela facilidade de uso. Em resumo, a ideia pode ser ótima e até ajudar um grupo de pessoas, mas dificilmente terá um crescimento exponencial se não puder ser moldada, tornando-se uma solução simples e barata.
#2 Os novos clientes querem usar um produto mais simples?
Lembre-se de que “disruptivo” não é sinônimo de “complexo”. Por isso, sua solução precisa ser simples de ser usada. Caso contrário, há grandes chances de seu produto ou sua solução não ser usado pelos clientes. Nesse ponto, muitas empresas acabam errando — principalmente aquelas já estabelecidas no mercado — por superestimarem seus usuários.
Quando falamos de tecnologia, coisas complexas e que não são simples de serem usadas em sua maioria exigem maior investimento para seu desenvolvimento. Logo, o prejuízo pode ser grande caso não sejam usados pela audiência. Ou seja, a compreensão do público, seus objetivos e suas necessidades devem estar em sintonia com aquilo que está sendo oferecido.
#3 A inovação ajudará os clientes a fazerem o que já fazem com mais facilidade e eficácia?
A terceira e última pergunta dessa primeira estratégia leva a uma análise comparativa entre a sua ideia disruptiva e as soluções disponíveis no mercado. Para entender de forma mais prática, explicaremos o objetivo dessa pergunta por meio do exemplo das máquinas fotográficas digitais, as quais, ao serem lançadas, tinham como principal benefício a organização de fotos nos computadores pessoais.
Apesar de muitos acreditarem que sim, a máquina digital não foi uma solução disruptiva. Apenas 5% das pessoas guardavam suas fotografias em papel dentro de álbuns. Além disso, eram extremamente caras.
Essa tecnologia só se tornou realmente disruptiva ao ser incorporada aos celulares. Dessa forma, o ato de tirar fotografias se tornou muito mais simples, assim como o seu compartilhamento. O resultado você já sabe: decadência das empresas de filme fotográfico.
Modelos de negócios disruptivos criados com base em segmentos de entrada
Esse caminho deve ser seguido quando o mercado oferece soluções excelentes aos seus clientes. Para aqueles que têm como objetivo um segmento já dominado por uma organização, os autores indicam dois testes como contraprova, que abordaremos a seguir.
#1 O produto líder no mercado vai além das expectativas?
Uma solução disruptiva não ganhará espaço no mercado se o que estiver disponível já for bom o suficiente. Agora, caso consiga oferecer um produto semelhante com um valor menor, é possível que novos usuários passem a usar a sua solução e, a partir daí, você desenvolve um mercado que até então era inexistente.
Um excelente exemplo de modelo disruptivo são as corretoras financeiras online, que, por meio de aplicativos, permitem que pessoas que não são ricas apliquem sozinhas seu dinheiro de forma simples, criando sua própria carteira de investimento. Até o surgimento desse modelo de negócio, apenas ricos e famosos aplicavam na bolsa de valores, pois contratavam especialistas que fazem esse gerenciamento.
#2 É possível criar um modelo de negócio diferente?
Segundo o artigo da Sloan Management Review, modelos de negócios disruptivos consistem em uma estrutura de custos, processos e sistemas de distribuição em que a margem de lucro é baixa. Porém, a rotação de ativos é mais alta do que o normal.
Baratear os custos de operação é uma forma de conseguir alcançar pessoas que ainda não utilizam determinada solução por causa do seu alto valor de aquisição. Para isso, algumas perguntas devem ser respondidas e analisadas para definir se esse é o melhor caminho a seguir:
- Qual é o preço mais baixo necessário para atingir a camada mais baixa do mercado?
- Quais são os nossos custos para gerar lucro com esse preço?
- Quais mudanças em rotações de ativos e processos são necessárias para gerar resultados positivos?
É interessante colocar que essa segunda estratégia para a criação de modelos de negócios disruptivos não é tão comum quanto a competição contra o não consumo. Apesar disso, os especialistas garantem que ainda assim é muito eficaz. É necessário apenas que os líderes tenham certeza de que essa estratégia não é atraente a todos os concorrentes.
Como colocamos no início deste artigo e pelo que você pôde perceber ao longo do texto, a criação de modelos de negócios disruptivos não é um processo simples. É essencial ter conhecimento sobre o comportamento do consumidor, investir em tecnologia e realizar pesquisas e muitas análises de dados estratégicos e operacionais para garantir o sucesso dessa inovação. Também é fundamental, com a solução pronta, criar e gerir estratégias digitais para o negócio.
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