A influência do dólar na economia brasileira

A influência do dólar na economia brasileira vai muito além do preço daquela passagem de avião para as férias fora do Brasil. Em uma economia globalizada, o preço do dólar — moeda mais comercializada no mundo — afeta desde o preço da carne nacional à capacidade da indústria brasileira de exportar, em um jogo intrincado no qual, nem sempre, as respostas são óbvias.

O Blog da Emeritus traz para você, neste artigo, uma perspectiva sobre a influência do dólar na economia — e na vida — brasileira, além de um pouco sobre as projeções dos especialistas e três fatores que podem ser decisivos no preço da moeda americana em 2020. Boa leitura!

Glossário do dólar

Antes de irmos mais a fundo nessa história, vale a pena fazer uma pausa para entender do que falamos quando usamos expressões como dólar comercial, turismo ou dólar futuro.

  • Dólar à vista: é o nome da dado à moeda negociada no balcão entre instituições financeiras e registradas na Câmera de Câmbio da Bovespa e os valores não divulgados publicamente;
  • Dólar comercial: é aquele que vale para o comércio exterior, ou seja, as transações de importação e exportação. O valor flutua conforme a oferta e procura da moeda no mercado;
  • Dólar turismo: é o dinheiro à venda em casas de câmbio Brasil afora e aquele que você paga quando faz compras internacionais do cartão de crédito — e sempre mais caro que o comercial;
  • Dólar paralelo: é aquele negociado fora das regulamentações cambiais, como aquele troco da viagem para os EUA que é vendido para um amigo, ou a moeda comprada em uma casa de câmbio do outro lado da fronteira paraguaia;
  • Dólar futuro: é um tipo de negociação em Bolsa que, simplificando, você negocia hoje o preço do dólar com vencimento no futuro. Operações desse tipo servem tanto para especulação quanto para empresas se protegerem contra a variação da moeda (hedge).

Influência do dólar na economia brasileira

Dólar alto é bom ou ruim? Bem, depende de para quem você pergunta. O primeiro ponto a se pensar quando discutimos a influência do preço do dólar na economia brasileira é que o valor da moeda americana não é bom ou ruim por si só.

O resumo da ópera é que o dólar mais alto é potencialmente bom para quem exporta mercadorias daqui para o mercado internacional. Com o real mais fraco, os produtos nacionais se tornam mais competitivos.

Muitas das nossas commodities mais exportadas, como a soja, o petróleo cru e a cana, são negociadas globalmente em dólar. Isso ainda pode fazer com que produtores prefiram cada vez mais exportar a vender no mercado interno — levando a cenários típicos como o aumento do preço da carne.

Naturalmente, o inverso é verdadeiro. Dólar enfraquecido — e real valorizado — dá mais poder de compra para quem precisa importar, como setores da indústria que dependem de insumos comprados no exterior para poder produzir. Ou seja, numa simplificação, dólar alto é bom para quem recebe em dólar e ruim para quem paga na moeda americana.

Um ótimo setor para pensar essa relação dúbia é o turismo. A alta do dólar encarece o preço das passagens em reais e o poder de compra do brasileiro no exterior, diminuindo as idas à Flórida ou à Europa; por outro lado, tende a aquecer o turismo interno e torna o país um destino mais atraente para estrangeiros em férias.

É importante notar, no entanto, que efeitos como esses — à exceção do turismo, cujas variações no dólar são rapidamente repassadas ao consumidor — não acontecem do dia para noite. Em linguagem de economista, é comum falar em “pass-through cambial”, nome dado ao momento em que a variação cambial começa a se refletir nos preços e na inflação. O consenso entre os especialistas, por ora, é de que ainda não estamos vivenciando isso.

Projeções para o câmbio em 2020

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em novembro de 2019 que “é bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo”. A referência de Guedes aos juros baixos não é por acaso; como veremos a seguir, câmbio e juros mantêm uma relação bem próxima.

A maior parte dos especialistas concordam que não existem motivos para acreditar em uma queda do dólar, pelo menos para o primeiro semestre de 2020. A moeda deve se manter acima dos R$4,00, podendo apresentar alguma estabilidade na faixa entre R$4,20 e R$4,50. O motivo principal é que, como deixou claro o ministro da Economia, o governo não vê razão para lutar contra esse patamar.

Em uma de suas muitas frases célebres, Winston Churchill afirmou que a política é sobre prever o que vai acontecer e, depois, ter a habilidade para explicar o porquê daquilo não ter acontecido. Tentar prever o comportamento do dólar, comumente, tem muito disso. Vamos passar por alguns dos fatores que podem mexer com o preço do dólar ao longo de 2020 e bagunçar as previsões desse começo de ano.

A Taxa SELIC

O governo federal, por meio do seu Ministério da Economia, executou em 2019 uma política de redução da taxa básica de juros. 2020 começa com uma mínima histórica de 4,5% na Taxa SELIC — o índice era de 14,25% em agosto de 2016.

O objetivo da política de redução de juros é reaquecer a economia, aumentando o consumo e o acesso ao crédito — mais gente comprando, mais negócios sendo abertos. Essa redução, porém, traz consigo um efeito natural na oferta de dólares no país.

A lógica é que os juros mais baixos tornam o Brasil um destino menos atrativo para estrangeiros investirem em títulos públicos por aqui, que pagavam bem quando os juros eram propositadamente altos.

A previsão é de que a taxa básica de juros fique entre os atuais 4,5% e algo um pouco abaixo, na faixa dos 4,25%. Ou seja, os juros baixos devem contribuir com a moeda americana acima dos R$4,00.

Instabilidade na região

2019 foi um ano e tanto na América Latina. A situação venezuelana continua calamitosa; a Bolívia passou pela deposição do presidente Evo Morales e vive um período de grande incerteza; a Argentina assistiu à derrota do liberal Mauricio Macri e o retorno do kirchnerismo com Alberto Fernández, enquanto o Uruguai fez o movimento oposto, indo da esquerda para a direita.

Até o Chile, exemplo de estabilidade na região na última década, viu uma enxurrada de protestos escalarem nas suas ruas — mesmo caso do Equador. O que isso tem a ver com o Brasil? Muita coisa.

Aos olhos de muitos dos investidores internacionais, mercados chamados periféricos como América Latina, Sudeste Asiático ou Oriente Médio, por exemplo, são vistos como grandes blocos. A ideia de uma América Latina em convulsão político-social tem efeitos sobre todos os países da região, afastando dólares da região e sendo mais um fator para apostar na manutenção da faixa de preço atual. O cenário político-econômico do Brasil, em si é outro fator que, claro, pode influenciar os preços.

China X EUA

Por fim, mas não menos importante, a tão falada Guerra Comercial entre China e EUA, as duas maiores potências econômicas globais. Lutar contra o deficit na relação entre os dois países (os EUA compraram US$ 420 bilhões a mais do que venderam à China em 2018) foi uma das promessas de campanha do presidente americano Donald Trump, e as trocas de hostilidades fiscais vem passando por idas e vindas nos últimos anos.

O acordo assinado em janeiro deste ano tranquilizou o mercado, mas não garante que não haverá novas agressões entre os lados. Por aqui, diferentemente dos EUA, a balança comercial brasileira é positiva com os chineses; o país asiático é o maior destino das nossas exportações (27,8% do total) e o superávit entre janeiro e novembro de 2019 ficou próximo aos 25 bilhões de dólares.

Uma escalada na tal Guerra Comercial teria efeito em todo o jogo econômico global e poderia forçar países como o Brasil a “tomar lado” nessa briga, o que afetaria a capacidade da indústria e do agro nacional de vender para a China, causando escassez de moeda estrangeira no país. Resta esperar.

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